O Brasil enfrenta atualmente uma combinação crítica de secas, queimadas e incêndios que afeta cerca de 60% do território nacional. Este fenômeno impacta significativamente a saúde pública, com riscos mais acentuados para grupos vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com comorbidades. Além dos efeitos diretos na saúde, como problemas respiratórios, o aumento de temperatura e baixa umidade do ar contribuem para o agravamento da situação.
A Associação Brasileira de Municípios vem, através desta Nota Pública, orientar gestores e gestoras municipais a compartilhar com a população recomendações para lidar com a crise provocada por queimadas, fumaça e seca no Brasil, tendo em vista que as prefeituras são os órgãos públicos mais próximos da população e fornecem atenção básica à saúde. As recomendações aqui divulgadas compilam as orientações gerais do Ministério da Saúde ao longo dos últimos anos.
As principais recomendações envolvem aumentar a ingestão de água potável para mitigar os efeitos do calor extremo e da baixa umidade, procurar locais frescos para reduzir o risco de problemas relacionados ao calor, e evitar atividades físicas, especialmente em áreas abertas durante os períodos mais quentes do dia. Na medida do possível, é recomendável manter-se com as janelas fechadas e longe dos focos de queimadas. Em regiões próximas ao foco de incêndio, é necessário utilizar máscaras de proteção, preferencialmente do tipo N95, para reduzir a inalação de partículas.
Recomendações operacionais de gestão:
- Fortalecimento dos serviços de saúde: reforçar o atendimento nas UBSs e UPAs para lidar com o aumento da demanda por problemas respiratórios e de calor. É vital garantir que essas unidades estejam bem equipadas e com pessoal capacitado.
- Monitoramento ambiental: avaliar constantemente a qualidade do ar, a umidade e a temperatura. Usar esses dados para emitir alertas à população e orientar medidas preventivas.
- Fornecimento de água: garantir o acesso à água potável, especialmente em áreas remotas. Estabelecer pontos de distribuição e bebedouros, assegurando a qualidade da água utilizada.
- Estruturas adicionais de saúde: avaliar a necessidade de criar novas estruturas, como tendas de hidratação e nebulização, especialmente em locais de alta demanda.
- Capacitação profissional: realizar treinamentos direcionados para as equipes de saúde a fim de melhorar a identificação e manejo de riscos de saúde oportunamente, com foco em populações mais vulneráveis.
- Promoção da saúde mental: implementar e reforçar ações voltadas à saúde mental, considerando os efeitos psicológicos do deslocamento, perda de bens e impactos diretos das queimadas.
- Manejo do fogo: apoiar órgãos e entidades envolvidas com a contenção e manejo do fogo, como brigadas ambientais contratadas e voluntárias. Ter atenção para respeitar as Diretrizes de Vigilância em Saúde para Brigadistas e garantir condições dignas de trabalho aos agentes da linha de frente.
Comunicação e Informação:
- Campanhas de conscientização: é um momento importante para iniciar campanhas que conscientizem sobre as mudanças climáticas, os riscos das queimadas e da fumaça, e ações preventivas que devem ser adotadas (utilizar como referência a Nota Pública lançada pela ABM, direcionada à recomendações para a população).
- Alerta de saúde pública: se necessário, utilizar sistemas de SMS e aplicativos para dispositivos móveis para enviar alertas e recomendações às pessoas em áreas afetadas. Para iniciar um alerta, é possível acionar o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Preparo e Resposta a Emergências:
- Planos de contingência: estabelecer planos de ação rápida para combate a queimadas, com treinamentos regulares para as equipes de resposta a desastres.
- Recursos e equipamentos: garantir a disponibilidade de equipamentos adequados e equipes treinadas para o combate ao fogo.
Colaboração Interinstitucional:
- Parcerias com instituições de pesquisa: colaborar com instituições de ensino e pesquisa para monitorar a qualidade do ar.
- Cooperação com lideranças comunitárias: trabalhar na mobilização e junto às lideranças locais comunitárias para desenvolver estratégias de mitigação adaptadas às necessidades específicas da comunidade.
Infraestrutura de Saúde:
- Reforço nos serviços de saúde: garantir que as unidades de saúde estejam preparadas para um aumento na demanda por problemas respiratórios.
- Distribuição de equipamentos de proteção: disponibilizar máscaras e outros equipamentos de proteção para a população mais vulnerável.
Estas recomendações têm como objetivo oferecer uma abordagem abrangente e eficaz para enfrentar os desafios impostos pelas queimadas e seca, fortalecendo a gestão municipal para a crise experienciada e promovendo a saúde e a segurança das populações afetadas. A Associação Brasileira de Municípios, reconhecendo a emergência que se estabelece no território brasileiro, se coloca à disposição para fortalecer os municípios na gestão e monitoramento da crise.
Orientações específicas para a população
Proteção contra a Fumaça:
- Ficar em ambientes fechados: manter janelas e portas fechadas para evitar que a fumaça entre.
- Filtragem do ar: utilizar purificadores de ar, com preferência a filtros HEPA.
- Uso de máscaras: utilizar máscaras do tipo N95 para proteger-se da inalação de partículas nocivas.
Prevenção de problemas de saúde:
- Hidratação: beber bastante água para manter-se hidratado. Manter a umidificação do ar em locais fechados com umidificadores, bacias ou toalhas molhadas.
- Cuidados com olhos e pele: utilizar colírios lubrificantes para aliviar a irritação ocular e cremes hidratantes para a pele ressecada.
- Alimentação: consumir alimentos ricos em água, como frutas e vegetais.
Precauções Especiais:
- Pessoas com comorbidades, gestantes, crianças e idosos devem ser especialmente cuidadosos. É recomendável manter as consultas médicas em dia e monitorar sintomas adversos.
- Em casos de sintomas como náuseas, vômitos, febres, falta de ar, tontura, confusão mental ou dores intensas (cabeça, peito, abdômen), buscar assistência médica imediata.
- Devido ao aumento de atendimentos médicos, é crucial estar alerta e procurar atendimento médico em primeiros sinais de agravamento dos sintomas, especialmente nos estados mais afetados.
- Pessoas tendentes a problemas respiratórios devem consultar profissionais de saúde para orientações específicas e ter medicamentos de uso contínuo à disposição.
- É recomendável evitar exercícios ao ar livre, sendo recomendável manter atividades físicas em ambientes internos com ar condicionado.
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Foto: Campo Grande News