O Palácio Antônio Lemos, em Belém/PA, sediou nesta quarta-feira (23) o Encontro de Prefeitas e Prefeitos da Amazônia Legal – Caminhos para a COP30, evento que reuniu lideranças municipais, vice-prefeitos/as, representantes do governo federal e organizações ligadas ao tema para discutir o desenvolvimento sustentável da região. A iniciativa faz parte de uma mobilização promovida pela Coalizão para o Desenvolvimento Urbano Sustentável da Amazônia (DUSA), que articula ações concretas rumo à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para novembro na capital paraense.
A Associação Brasileira de Municípios (ABM) marcou presença com representantes de diversos municípios da Amazônia Legal, mostrando a diversidade de desafios regionais que precisam ser incluídos nos debates climáticos. Com lideranças de cidades ribeirinhas, áreas indígenas e centros urbanos, a entidade reforçou seu papel como articuladora entre as demandas locais e as políticas públicas. Essa mobilização estratégica posiciona os municípios como peças-chave nos preparativos para a COP30, garantindo que as soluções para o clima nasçam das realidades de cada território.
“Não só de floresta vive a Amazônia”: prefeita defende olhar para as cidades
Francineti Carvalho, prefeita de Abaetetuba/PA e 2ª vice-presidente nacional da ABM, fez um contundente alerta durante o evento: “Quando falamos da Amazônia, precisamos lembrar que não estamos discutindo apenas uma floresta, mas um território habitado por milhões de pessoas”.
A gestora destacou que cerca de 70% da população amazônica vive em áreas urbanas: “Nossas cidades precisam de saúde, educação, cultura e infraestrutura tanto quanto precisamos preservar o meio ambiente. Não podemos tratar a Amazônia como um grande santuário ecológico esquecendo que aqui vivem pessoas”.
Mulheres, recursos e a voz dos povos indígenas
Com experiência à frente de um município paraense, Francineti trouxe uma crítica importante sobre representatividade: “Mulheres e crianças são as mais afetadas pelas mudanças climáticas, mas somos minoria nos espaços de decisão”.
Ela defendeu maior participação feminina nas discussões sobre políticas públicas: “De nada adianta nos chamarem para falar de cuidados se não garantirem orçamento para nossas cidades. Precisamos discutir financiamento e reduzir a burocracia para acessar os recursos”.
A fala da prefeita ecoou o discurso de Eliane Falcão, vice-prefeita de São Gabriel da Cachoeira (AM) e vice-presidente para Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais da ABM, que levou ao evento a realidade dos municípios mais isolados da Amazônia:
“Com a nova eleição da ABM, assumi a missão de representar os povos originários e comunidades tradicionais. Falo hoje com a responsabilidade de representar um território que, embora isolado e invisibilizado em muitos espaços, é riquíssimo em cultura, sociobiodiversidade e ciências.”
Ela destacou que São Gabriel da Cachoeira é a cidade mais indígena do Brasil, com quase 90% da população indígena, de mais de 20 etnias, e situada na fronteira com Colômbia e Venezuela. Apesar disso, enfrenta graves carências: “Vivemos realidades de muitas ausências: falta de infraestrutura, saneamento, conectividade, políticas públicas contínuas e, sobretudo, de acesso a recursos para o enfrentamento da crise climática.
Eliane criticou também os critérios excludentes para financiamento climático: “Nós estamos na linha de frente dos impactos, mas ficamos na retaguarda dos recursos. Os critérios que definem quem pode acessar fundos nacionais e internacionais — como a classificação da CAPAG, por exemplo — excluem quase automaticamente cidades como a nossa”.
A voz das comunidades costeiras
Gelzi Araújo, vice-prefeita de Augusto Corrêa/PA e vice-presidente de Zonas Costeiras da ABM, trouxe a perspectiva dessas localidades: “Nossa Amazônia vai muito além da floresta. Temos manguezais, comunidades tradicionais e um povo que vive em estreita relação com os rios e o mar”.
A representante explicou seu papel na recém-criada vice-presidência da ABM: “Estamos aqui para garantir que os mais de 40 municípios costeiros do Pará e outros tantos no Brasil tenham sua voz ouvida nas discussões sobre desenvolvimento sustentável”.
A ABM também esteve representada por Cristina Vilaça, vice-prefeita de Barcarena/PA e vice-presidente de ODS; e Josemira Gadelha, prefeita de Canaã dos Carajás/PA e vice-presidente de Cidades Mineradoras.
Rumo à COP30: municípios buscam protagonismo
O evento reforçou a necessidade de incluir os municípios nas discussões preparatórias para a COP30. As representantes da ABM deixaram claro que os gestores locais precisam ter voz ativa na construção de políticas públicas para a região.
Com a aproximação da COP30, a ABM se consolida como articuladora fundamental entre os municípios amazônicos e os debates internacionais sobre desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas.
Por Cleuber Nunes, da ABM