Evento em Genebra reuniu prefeitos de todo o mundo para discutir governança multinível e desenvolvimento sustentável; entidade brasileira destacou urgência do tema para cidades de pequeno e médio porte
Em um palco dedicado a soluções locais para a resiliência urbana, a Associação Brasileira de Municípios (ABM) representou os governos locais brasileiros no Fórum de Prefeitos das Nações Unidas, realizado em Genebra, na Suíça. O evento, que promove a governança multinível para o desenvolvimento urbano alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), serviu de plataforma para a entidade alertar sobre os riscos do calor extremo.
Como única representação brasileira no fórum, a ABM esteve representada pelo presidente Washington Quaquá, prefeito de Maricá/RJ, e pelo diretor executivo Eduardo Tadeu. Na sessão “Resfriamento e Construção para Resiliência Urbana: Soluções Locais, Impacto Global”, Eduardo Tadeu alertou que o calor extremo se transformou em uma “crise de saúde urbana”, defendendo que políticas de resfriamento são, acima de tudo, “políticas de proteção à vida”.
Financiamento e apoio estrutural
Em sua exposição, o diretor executivo da ABM ressaltou que a ação municipal isolada não é suficiente. Para um avanço consistente, são necessários, segundo ele, ajustes regulatórios, programas de retrofit que incorporem padrões de resfriamento passivo e o uso de ferramentas tecnológicas como mapeamento térmico.
O ponto central, destacou, é o financiamento. “Isso só será viável com linhas de financiamento inclusivas, constantes e acessíveis, voltadas para retrofits comunitários e infraestrutura de sombra, e sempre com salvaguardas contra a gentrificação”, argumentou.
Alinhando ações locais com a agenda global
A experiência do município de Maricá foi citada como um exemplo de como alinhar inovação social, planejamento urbano e resiliência climática. “Programas habitacionais e iniciativas de justiça climática mostram que é possível alinhar inclusão social com resfriamento urbano. Maricá demonstra que cidades de médio porte podem liderar soluções inovadoras”, disse o diretor.
Eduardo Tadeu também conectou o debate local à iminente COP 30, que será realizada em Belém, definindo-a como um “marco histórico”. “Ali terá um pavilhão específico sobre edificações e resfriamento, dando visibilidade internacional a um tema que já é vital”, explicou. A ABM entende que a COP 30 será uma oportunidade única para as cidades mostrarem que estão prontas para escalar soluções e influenciar diretamente os compromissos nacionais e globais.
Trajetória e compromisso com os ODS
A participação no fórum reforça uma trajetória histórica da ABM com a agenda global. Entre 2017 e 2020, a entidade implementou, em parceria com a União Europeia, o projeto “Parceria pelo Desenvolvimento Sustentável”, apoiando municípios na implementação dos ODS. Atualmente, a associação atua como mobilizadora do pacto “Meu Município pelos ODS”, uma iniciativa federal para que as prefeituras assumam compromissos verificáveis com a Agenda 2030.
“Convidamos parceiros internacionais a conhecer e replicar esses modelos de adesão e suporte técnico, que são fundamentais para acelerar a implementação dos ODS nas cidades”, finalizou Eduardo Tadeu, reafirmando o papel da entidade na articulação da agenda de desenvolvimento sustentável nos municípios brasileiros.